
::10 a 20 de Dezembro na INTERPRESS::
Rua Luz Soriano, 67 Bairro Alto
uma pessoa que não sabe o que quer
a noite é um líquido negro
caleidoscópios e complexidade, todos os dias
a existência parece-me uma neblina
o universo é um gás esquisito
a vida continua, apesar de tudo
limos e néons, ruas de aquário
seres contorcem-se por cima da terra
a as fossas do mundo, no seu chamamento
apesar de tudo existe luz
as pessoas sorriem por entre amigos
há outros sítios para onde ir
o mundo está cheio de gente
os automóveis fuçam na cidades
pássaro passando, radiação no ar
labirintos, labirintos, labirintos
a toca de um verme violento
os ossos a boiarem num sonho
o prisma de cores de isaac newton
uma janela com bactérias
aquilo de que somos feitos: isto.
acender uma vela
só para queimar tempo
o labirinto mete-se para dentro
aranha a morder o cimento das paredes
sonhar com uma noite bem dormida
grandes tijolos de agitação
vertigem com contornos confusos
obstáculos feitos de penumbra
estilhaços mentais, destroços mentais
agitação no escuro, sofrimento no claro
um dia incompreensível
jardim com arame farpado
ruídos, escavadora, cães
as metástases do barulho
flores conceptuais, pólen mecânico
degraus perplexos, passos perplexos
aviões sobrevoam-nos constantemente
estátua neurótica, mármore acordado
luz, e ruas, e realidade
oráculo atulhado de pedras
o dia é ser betonado vivo
há um segredo de cimento chumbo
emparedados vivos na vida
a alma é mortal e o sofrimento
o sol levanta-se, culpado de crimes
auto-estrada com nó na garganta
paisagem bonita mas só destroços
há mortos em todas as casas
a angústia é um filósofo doente
hoje passaram mais andorinhas
o gato dorme enrolado preto
a escrita de uma esperança desesperada
uma praia com pedras cancerosas
escoriações do mar com gaivota
era preciso... um dia... mais tarde...
noites submarinas, auroras em sarcófagos
em busca do tempo perdido
muros esquizofrénicos, paredes de kafka
o gato dorme preto e enroscado
recuso-me a aceitar esta vida
outros seres, outras galáxias...
a poesia é um sintoma, não a doença
a fragilidade do corpo em ansiedade
o mundo é cada vez mais uma auis raris
os gestos foram riscados do mapa
é tudo tão difícil, tão difícil...
o mundo despreza as pessoas
um ninho de ovos, crianças podres
o rosto a torcer-se em psicose
homem escolho derrubado com gritos
o coração é uma caverna convulsa
as paredes pinchadas de sangue
dar de comer lenha ao fogo
morfologia de monstros e de micróbios
o mundo não tem interesse nas pessoas
as comissuras da boca em desânimo
a traqueia estrangula-se de depressão
dantes não era tudo tão negro
já nem me lembro da vida
é no silêncio que o terror rebate o eco
o sol enferrujou no horizonte
e amanhã recuso-me a acordar
trompetes a patearem gritos
relógio gigante com segundos maiores
batuque rolamento
miado rosnado como chicote
piano hertziano
aplausos com fumo
incoerência, escudo, uma posição
grande vitalidade e velocidade
palmeiras esquizo-acústicas
os músculos em ansiedade
uma imagem da melancolia (de dürer)
elefante-pandeireta no palco
suavemente labirinto-memória
a ergonomia de quem está a escrever
una tonteria
uma cápsula no espaço-tempo
armadilhas e dualidades
uma grande revolta no horizonte-mar
choques entre instrumentos
e a descida em carris de ferro.
olhos esbugalhados de cerveja
conversa histróinica e incorente
mesas para fumadores
andaimes de metal na noite
empurrados pelo vento tempo cronos
grupos desnorteados a palrar
as ruas descem ao rio
as prisões estão completas
táxis passam
os sonhos foram desbaratados
as ruas cambaleavam fachadas
um jovem homem aos berros
as luzes da cidade como archotes
o dia de amanhã é um vórtice
as mesas são quadradas
uma parede de gente ruidosa a rir
a minha inquietação de sempre
o medo do que está no futuro