26.8.03

o deus da doença

um império se desenha, com o ar raízes dos dentes a enraízarem-se no escudo continental. extractos mais profundos. radiações das pegadas de outra gente. os ecos de batalhas, absorvidas pela rocha que se desagrega com a erosão. a limonite, a ferrugem das pedras, a lixiviação das rochas épicas. a radiação de outras gentes que impregnam o solo e os aquíferos. os pés que se afundam nos canos dos perónios. que se encharcam no passado. a rua do raio. a aurora dos decapitados. a dificuldade em andar. o som que se propaga nas ruínas. o coração que ainda não parou. (...) a multiplicidade de tudo, dos caminhos que se bifurcam. da distância entre as pessoas, dos universos que se afastam, do crónico cansaço, da mania em sonhar, (...) um deus da doença, um deus do sofrimento e da desagregação, os tubos coronários, a espetarem-se corpo fora, a derramarem o sangue, bacias hemográficas, com barragens osteoformes, e o deus da doença. (...) estradas mais profundas, sulcadas por vagabundos errantes e aleatórios, que se locomovem até cairem na estrada. estenuados de cansaço e sem interesse pela vida, expressionistas, absurdos no seu sentir e viver. deitados de costas, a olharem para cima, a pupila paralisda, hipnotizados pelo cadáver do céu, à espera que o deus da doença os leve.

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