12.8.03

gólgota

olha-se lá para fora. era suposto tar aqui uma marquise envidraçada para se poder olhar lá para fora. uma paisagem ampla, grandiosa e esfarrapada. és a lua, a bater-me na janela?, com pequenas pedrinhas nos estores?, (...) não se consegue olhar de outra maneira hoje. as coisas não são assim, naufrágios domésticos, no entanto não se consegue pensar de outra maneira hoje. há maldições que parece que foram postos os seus ovos antes de nos deslocarmos no espaço. (...) enrolo-me no próprio miocárdio, como se tivesse a enrolar um cigarro. num gesto de quem se absorve a si mesmo. como o ralo da banheira a chupar a água, as vísceras e os pulmões a descerem centrípetos cano abaixo. era suposto ser verão, eu sei, mas hoje fez uma grande trovoada alcóolica dentro do crânio, (do gólgota em aramaico, mas eu preferia usar a expressão "dentro das quatro paredes da minha cabeça").
é a lua a bater-me no estore da janela, a chamar-me...

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