uma pessoa que não sabe o que quer
a noite é um líquido negro
caleidoscópios e complexidade, todos os dias
a existência parece-me uma neblina
o universo é um gás esquisito
a vida continua, apesar de tudo
limos e néons, ruas de aquário
seres contorcem-se por cima da terra
a as fossas do mundo, no seu chamamento
apesar de tudo existe luz
as pessoas sorriem por entre amigos
há outros sítios para onde ir
o mundo está cheio de gente
os automóveis fuçam na cidades
pássaro passando, radiação no ar
labirintos, labirintos, labirintos
a toca de um verme violento
os ossos a boiarem num sonho
o prisma de cores de isaac newton
uma janela com bactérias
aquilo de que somos feitos: isto.
3 comentários:
É, talvez, o poema dionisíaco que mais gostei. Gosto da forma como misturas ciência (ou algo assim) e poesia, luz e dor! Continua assim caro amigo.
E vivó Newton!
Para o ano, é o ano dele!
Uma Era para o poeta :)
A Era
Minha era, minha fera, quem ousa,
Olhando nos teus olhos, com sangue,
Colar a coluna de tuas vértebras?
Com cimento de sangue - dois séculos -
Que jorra da garganta das coisas?
Treme o parasita, espinha langue,
Filipenso ao umbral de horas novas.
Todo ser enquanto a vida avança
Deve suportar esta cadeia
Oculta de vértebras. Em torno
Jubila uma onda. E a vida como
Frágil cartilagem de criança
Parte seu ápex: morte da ovelha,
A idade da terra em sua infância.
Junta as partes nodosas dos dias:
Soa a flauta, e o mundo está liberto,
Soa a flauta, e a vida se recria.
Angústia! A onda do tempo oscila
Batida pelo vento do século.
E a víbora na relva respira
O outo da idade, áurea medida.
Vergônteas de nova primavera!
Mas a espinha partiu-se da fera,
Bela era lastimável. Era,
Ex-pantera flexível, que volve
Para trás, riso absurdo, e descobre
Dura e dócil, na meada dos rastros,
As pegadas de seus próprios passos.
Ossip Mandelshtam
(1923)
adriana :)
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