irrealismo crónico e profundo
textos todos riscados
aqui e ali uma palavra
espreitando através do naufrágio
inoculado de ódio
cérebro raiz de gelatina
por vezes nada se aproveita
a paisagem a enferrujar indefinida
ao longe disparos desconvictos
e ao perto a radiação
o sangue nos seus circuitos
os pássaros com vertigens
mais palavras riscadas
uma palavra a espreitar
o arame farpado de rasurados
é a génese do não-nascer
as palavras são muito pequenas
as letras, essas, minhocas
um verme humano portanto
a secretar segredos
e a debater-se na escuridão
2 comentários:
"o arame farpado de rasurados"...
Muito bom! (e não só esta frase)
Beijinhos, miúdo giro.
conchinha
(pelos vistos, não era filtro... ontem foste um vírus durante a tarde)
Estou de volta a este admirável mundo dos blogues e deparo-me logo com este poema algo inquietante. Parece-me (e assim quero crer) que pensas aqui a escrita. Pensa-la com originalidade e toda a nova literatura deverá tomar isso como condição fundamental da sua existência. Ai os manuscritos rasurados... edição crítica.
um abraço daqueles fortalhaços.
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