os pássaros piavam percutindo na cabeça
os pássaros piavam, como se árvores fossem
excrescências; excrescências vivas a chiarem
pássaros percutindo e os troncos dentro
os troncos dentro e o sol atrás das casas
a aurora era um monstro deficiente
como se os cotovelos das árvores desatinassem
desatassem a piar, e os joelhos das aves
piavam bicadas na sua cabeça
e os pássaros subiam para cima do sol
como ratazanas
a aurora levantava-se e isso humilhava-o,
como se fossem pássaros, como se cotovelos,
como se as árvores excêntricas e o caule,
eram aves-árvores e o dia a levantar-se,
trepando casas, para cima das casas:
o céu do horizonte recortando-se nos telhados
e os telhados a piarem ódio e sol
e os pássaros subiam para cima do sol
como ratazanas em cima do céu
a aurora levantava-se, a cabeça
como uma noite no horizonte,
e o astro-rei começava aos gritos
desnorteado.
nota: estes dois poemas são de 2005, para um livro que não cheguei a escrever. Ir-se-ia chamar "ciclo do carbono".
Rafael Dionísio.
1 comentário:
gosto bastante
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