23.11.06

poema à hora de almoço


sento-me num banco da gulbenkian
para jiboiar o almoço

os velhos da batota
reúnem-se em agitação geriátrica
rosnando copas, política, futebol

agora passou um avião
desenhando uma geodésia de fumo
anel de saturno em volta da terra

as grandes narrativas acabaram:
ulisses apanha o cacilheiro para casa
édipo é arguido por burla
antígona trabalha num bar à noite
prometeu tira direito na católica
medeia acabou de adoptar um filho
virgílio leva dante a conhecer o chiado
hamlet é doido por hambúrgueres
e fausto, enfim, inscreve-se num curso
de meditação

mas daqui a um mês
mais coisa menos coisa
é o solstício de inverno
depois disso os dias voltam
a inchar luz por dentro...

(equinócio, solstício, equinócio, solstício):
- é assim a vida...

6 comentários:

T disse...

Poema prodigioso (a quarta estrofe é a minha preferida) e tal.

Anónimo disse...

lol boa prometeu a tirar direito.
Lindo
Nadir, unusmundus

Anónimo disse...

bonito :)
prazeiroso :)
gostei :)

:) beijinhos

Anónimo disse...

Uma vez vc me disse que não gostava de poesia. No entanto, quando vc se arrisca, sai-se muito, muito bem. Como aqui. Me lembrou Frank O'Hara e sua acidez tão urbana. Gostei muito.

Beijo do verão.

Anónimo disse...

Muito, muito bom!
Beijinhos
Adriana

Anónimo disse...

Só vou repetir o que todos já disseram, muito bom

beijinhos,
Guida