30.7.03

depois do parêntesis

(uma cabeça de triciclos, um profeta moribundo, uma ilha com magnésio, a barriga de um veleiro, esta esterilidade formalista, a fala congela em cubos, como um desarranjo na tiróide, as palmeiras vazias, a desistência a dar à praia como náufragos, os olhos inexpressivos dos peixes, regatos em escarpas, com árvores espetadas em falésias):
eu tinha uma namorada, estava com outros adolescentes no café. estava a sentir-me socialmente inquieto, uma negra disposição por dentro da alegria esforçada. fui à casa de banho. fechei os olhos, e a ponta da faca entrou na carne nas costas da mão esquerda. quando rompe a resistência da pele, e desliza nos flocos de carne. apesar da pouca profundidade.
senti-me aliviado. voltei à mesa. e escondi a mão esquerda. um fiozinho de sangue pingava através dos dedos. tudo corria pelo melhor. e a minha namorada estava feliz comigo e com os seus amigos no café.

Sem comentários: