
24.3.08
15.3.08
exercício de diagnóstico

a poesia é um sintoma, não a doença
a fragilidade do corpo em ansiedade
o mundo é cada vez mais uma auis raris
os gestos foram riscados do mapa
é tudo tão difícil, tão difícil...
o mundo despreza as pessoas
um ninho de ovos, crianças podres
o rosto a torcer-se em psicose
homem escolho derrubado com gritos
o coração é uma caverna convulsa
as paredes pinchadas de sangue
dar de comer lenha ao fogo
morfologia de monstros e de micróbios
o mundo não tem interesse nas pessoas
as comissuras da boca em desânimo
a traqueia estrangula-se de depressão
dantes não era tudo tão negro
já nem me lembro da vida
é no silêncio que o terror rebate o eco
o sol enferrujou no horizonte
e amanhã recuso-me a acordar
12.3.08
les villes tentaculaires

muros sujos com dizeres
embriões de cimento, cadáveres de ferro
mendigos avulso pelo chão
automóveis acidente vascular cerebral
janelas de ansiedade, telhados de eczema
tijolos com o cimento da paranóia
muros dividindo áreas mutantes
a barriga do esgoto esnavalhada
opressão na malha urbana
cérebro labirinto em malha viária
rótulas de cimento escancaradas
postes de alta tensão, andaimes,
centros e periferias
baldios suburbanos e torres
vertigens arquitectónicas e poder
formigar nas ruas emparedado
vizinhos-telescópio e relatórios
volumes projectados dramaticamente
doença pós-industrial generalizada
cancro urbanístico e os brônquios
os taipais das obras
a minha revolta
3.3.08
free jazz
-lavender-mist.jpg)
trompetes a patearem gritos
relógio gigante com segundos maiores
batuque rolamento
miado rosnado como chicote
piano hertziano
aplausos com fumo
incoerência, escudo, uma posição
grande vitalidade e velocidade
palmeiras esquizo-acústicas
os músculos em ansiedade
uma imagem da melancolia (de dürer)
elefante-pandeireta no palco
suavemente labirinto-memória
a ergonomia de quem está a escrever
una tonteria
uma cápsula no espaço-tempo
armadilhas e dualidades
uma grande revolta no horizonte-mar
choques entre instrumentos
e a descida em carris de ferro.