21.4.08

nervos e esperança




aproximam-se serpentes e dificuldades
céu muito nebulado, períodos de chuva
corais no naufrágio doméstico
morbilidade psíquica e escombros

depois do terramoto, antes da casa
gruta com gigante cego
um cão a ladrar suspenso no passado
fui visitado por um ser sem forma

devaneio, asas profundas, gambito
a alucinação está nos fragmentos líquidos
armadilhas de ansiedade, kafkianas,
espasmos corporais com luxúria
mulher e refúgio de abrigo
um pedido de ajuda

nevoeiro de mármore, mar de metal
estilhaços derretidos do que se vê
perplexo frente ao poema
os segundos enormes do nervosismo
uma baía cristal noutro mundo
a porta, a morte do infinito,
a saída do labirinto
e o sol a explodir constantemente

3.4.08

nevoeiro clorídrico






há um segredo de cimento chumbo

emparedados vivos na vida

a alma é mortal e o sofrimento

o sol levanta-se, culpado de crimes

auto-estrada com nó na garganta

paisagem bonita mas só destroços

há mortos em todas as casas

a angústia é um filósofo doente

hoje passaram mais andorinhas

o gato dorme enrolado preto



a escrita de uma esperança desesperada

uma praia com pedras cancerosas

escoriações do mar com gaivota

era preciso... um dia... mais tarde...

noites submarinas, auroras em sarcófagos

em busca do tempo perdido

muros esquizofrénicos, paredes de kafka

o gato dorme preto e enroscado

recuso-me a aceitar esta vida

outros seres, outras galáxias...