a planície está vazia
de coração arrancado,
as veias estrangulam-se nos pés,
e fizeram tropeçar fausto
também édipo caminhou assim
com o coração pesados nos pés
antes e depois
de mutilar os olhos
que peso desce coração
aos pés tanto peso?
como se o centro do corpo
percutisse pulsações doentes
batidas de quem pede ajuda
(e o plexo solar
a pôr-se no horizonte)
22.5.04
8.5.04
o pai de fausto
estava com as pernas desatarrachadas da bacia, porque tinha estado a morrer durante três semanas há três anos. estava tecnicamente acamado. em linguagem popular estava aleijado.
não é que fausto tivesse assim uma pena tão profunda. antes pelo contrário. havia uma grande parte de si que gostava de o ver diminuído e dependente.
lembrava-se muito bem de todos os infinitos sermões, em que era requisitado burocraticamente por seu pai até ao gabinete, e que o ouvia humilhando-o intelectualmente com "discursos". discursos que invariavelmente o amesquinhavam em relação aos outros, a todos os outros, e que lhe davam um sentimento de culpa em relação ao mundo que continuava profundamente enquistado no seu ser.
e agora o pai de fausto estava acamado. fausto tinha que lhe levar o tabuleiro de jantar e ainda tinha que ouvir a sua voz autoritária e insolente a chamar para lhe ir buscar um papel ou para verificar pela enésima vez um estrato de conta.
um dia destes havia de lhe atirar o jantar na cara. queimando-o e demonstrando-lhe finalmente o que sentia.
mas por agora continuava a obedecer como se gostasse dele.
não é que fausto tivesse assim uma pena tão profunda. antes pelo contrário. havia uma grande parte de si que gostava de o ver diminuído e dependente.
lembrava-se muito bem de todos os infinitos sermões, em que era requisitado burocraticamente por seu pai até ao gabinete, e que o ouvia humilhando-o intelectualmente com "discursos". discursos que invariavelmente o amesquinhavam em relação aos outros, a todos os outros, e que lhe davam um sentimento de culpa em relação ao mundo que continuava profundamente enquistado no seu ser.
e agora o pai de fausto estava acamado. fausto tinha que lhe levar o tabuleiro de jantar e ainda tinha que ouvir a sua voz autoritária e insolente a chamar para lhe ir buscar um papel ou para verificar pela enésima vez um estrato de conta.
um dia destes havia de lhe atirar o jantar na cara. queimando-o e demonstrando-lhe finalmente o que sentia.
mas por agora continuava a obedecer como se gostasse dele.
3.5.04
cadernos de fausto
tinham-lhe despejado cimento no coração, e assim sentia como que uma fossilização do plexo solar. tinha peso na respiração e o esforço do diafragma em erguer e esticar os pulmões para erspirar era aço inoxidável.
ficaria assim, deitado, na luta pelo oxigénio, a olhar inexpressivo as paredes, a pensar em tudo o que viveu e em tudo o que gostaria de ter vivido. a pensar, ventilando ideias com dificuldade, com o sangue espesso a empapar-se no cimento.
e ficou assim, a olhar. à espera. apenas à espera.
ficaria assim, deitado, na luta pelo oxigénio, a olhar inexpressivo as paredes, a pensar em tudo o que viveu e em tudo o que gostaria de ter vivido. a pensar, ventilando ideias com dificuldade, com o sangue espesso a empapar-se no cimento.
e ficou assim, a olhar. à espera. apenas à espera.
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