28.1.07

os fungos de fausto






fausto coleccionava fungos. fausto coleccionava fungos e chamava a isso "as minhas podridões". fausto coleccionava fungos porque podridões. fausto coleccionava porque num ninho de ciência e de doença.
no seu laboratório frascos com fungos ferozes. e lá dentro fausto havia frascos com fungos. ele gostava de fungos porque doenças. ele gostava de fungos porque bacteriológica e porque doenças bacteriológicas. ele gostava porque silos com bacilos. ele gostava de fungos e de podridão putrefacção em geral. e de doenças. do poder que as doenças lhe davam. bacteriológico. do poder que os bacteriológicos trazem. do poder dos bacilos. dos organismos vivos que venenos.
ele gostava de fungos porque bacteriológico e doenças. fausto na floresta: ervanário do mal. fausto na floresta fungos e bocados de seres vivos. organismos retirados a fórceps da natureza, retirados a fórceps extracção forçada natureza.
às vezes levava nas suas expedições científicas à floresta, levava mulheres. levava mulheres à floresta e acabava por se deitar em cima delas nos fetos, como uma sombra por cima delas e inoculava-lhes o seu esperma incubo. raramente se debatiam a não ser na aflição do orgasmo testemunha a floresta. fausto na floresta ervanário do mal. elas raramente se debatiam porque sabiam ao que iam.
fausto na floresta recolhia fungos e doenças como se fossem seus filhos. trazia-os para o laboratório. fabricava fungos e filtros, ciência e doença. e na sua organização de bacilos entrava por vezes em delírio pelas doenças que experimentava.
e, por cima de todos os seus boiões e godés, por cima do aparato de lâminas e microscópios, encontrava-se, o olhar espancado de um cristo. não que fausto fosse cristão mas porque aquilo simbolizava uma das maiores fraudes que um ser humano tinha perpetuado. fausto celebrava essa fraude. fausto sabia, desde as noites sonâmbulas dos tempos, que o que movia pessoas como o nazareno era a luxúria da glória, o exibicionismo masoquista, o sofrimento sacralizado, a luxúria da glória, a loucura de se exibir no seu triunfo da morte. só para que os outros o considerassem deus, só para se perpetuar na memória dos homens. e fausto não achava que esse logro do cristianismo, na figura de um doente perverso e exibicionista, fosse errado. cristo era admirado por fausto pelo seu engenho maquiavélico em enganar. e isso estava certo. tornar-se um deus face aos ignorantes. isso estava certo. triunfar e sobressair da massa ignorante e supersticiosa. isso estava certo. exibir o seu gozo e o seu martírio perante todos, tornar-se adorado deixando-se levar em suicídio ao gólgota. isso estava certo.
como fausto compreendia essa furiosa demência humana... tornar-se deus... como fausto compreendia que um galileu tenha morrido para se imortalizar... só alguém tão perverso como cristo é que o poderia ter feito. só cristo ou o próprio demónio, mestre do logro, rei do engano, para poder parir o monstro do cristianismo.suicidar-se para ser deus. que perversidade maravilhosa! eis a que se resume uma das mais belas obras do demónio. e, diga-se em sua justiça: a mais perfeitamente executada.








13.1.07

a conquista do filósofo, na primeira pessoa

no outro dia era um lago, os bichos podres lá dentro, no outro dia era um lago com bichos podres lá dentro. e eu ainda queria um aquário com aqueles bichos todos podres todos lá dentro lago. com aqueles bichos podres lá dentro.
eram falácias entre as cordas e eu não conseguia voltar, e num dos trilhos havia drogados injecção e queriam injecção e agarrarem as pernas das pessoas passam na rua e eles como se fossem polvos drogados.
mas eu não conseguia voltar. quando lá se vai já não se vai conseguia voltar. mas eu não conseguia logo lago voltar. e com bichos podres lá dentro. era aquele caminho mas eu não conseguia voltar. e com bichos podres lá dentro. e eu lixo desarrumados pelo chão. em toda a glória e psicologia descontrolados pelo chão. drogas descargas impulsos electrocussão.
as barreiras, os obstáculos, e eu tinha medo porque outros assim com força, com força extremista, levadas as pessoas poesia como extremos levadas as pessoas como, levadas à porta dos precipícios e lá em baixo largos lagos com bichos mortos podres lá dentro, lagos mortos. com extrema irracionalidade. com extrema intencionalidade. os obstáculos. com as ideias a ficarem quem sou eu onde estou como vim aqui parar? com as ideias a dizerem porque é que estas pessoas estão faustomortas?
com extremo cansaço, erguendo o braço morte músculos do lago, como quando combustão. e assim exemplo pessoa a arder no meio do caminho, a ficarem ideias como sou, com as ideias a dizerem porque é que estão mortas?
e a psicologia descontrolada. com extrema intencionalidade. com extremo cansaço, por meio das pessoas e a arder quase dinamite, levadas à força precipícios, lá para baixo isto sim assim é uma pessoa. levar por isso as pessoas e os precipícios às últimas consequências.
agitação intensa, grande perda de sangue, grande quando que poder de ataque, os impulsos sexuais bater nos impulsos sexuais, as pessoas levadas às últimas consequências, pela força, pela força, e anjos doentes a pousarem abutres doentes, e sujos doentes a poisar em árvores em cima do lago, mesmo por cima a poisarem doenças. eles estar estão a poisar! eles estar estão a poisar!
por isso mesmo descontrolo de si mesmo. os impulsos sexuais, bater nisso dos impulsos sexuais, os impulsos sexuais como electricidade aos coices, como as mãos electricidade nos nervos duzentos e vinte volts. drogas descargas impulsos electrocussão. nos pés e nas mãos a electricidade electrocussão. e o corpo amarrado a ser electricidade.
bater nos impulsos sexuais, o descontrolo, o altar dos mortos, o verdadeiro altar nosso violência, como são doenças, anjos abutres nas árvores, a verdadeira fuga, a fugitiva da vida, abre-se um espaço e nesse compartimento altar dos mortos, água dos mortos, compartimento violência até ao tecto.
de gestos bruscos, de movimentos esquizofrénicos, de pancadas súbitas, de gestos e de pancadas bruscos, de gente batida inusitados mortos, inusitados anjos mortos, nas árvores, enforcados como anjos inutilizados, a verdadeira fuga, até espancar, violência até ao tecto.
nas árvores, enforcados com as asas tristes, homens-pássaro do paraíso levados até ao enforcamento, repletos de sexos podres como uma revelação, para demonstrar a funda perversão, como uma fúria em ser deus, anjos doentes mentais, deficientes profundos mortos nos precipícios, abutres anjos mortos, repletos de sexos podres como uma revelação, como uma fúria em ser deus, uma fúria que se encoleriza facilmente, a empregar a força física, a violência física gritos, arreganhados dentes anjos, drogas descargas impulsos electrocussão.
sempre nas últimas consequências: as pessoas. os precipícios, as pessoas e os precipícios.
com a força extrema, as pessoas levadas pelas mandíbulas já são animais. as pessoas nos precipícios já são animais. e tudo com feroz e tudo com ferocidade animais mortos logo lago.
e eu, porque fausto, vi a violência, um altar de escoriações, e a violência abre-se a porta compartimento sempre sempre a subir.
com extremo cansaço, erguendo o braço morte músculos do lago, como quando combustão, e assim exemplo pessoa a arder no meio do caminho, a ficarem ideias como sou, com as ideias a dizerem porque é que estão mortas?
por isso mesmo descontrolo de si mesmo. por isso mesmo descontrolo de si mesmo. por isso mesmo descontrolo de sempre sempre a subir. por isso mesmo. por isso mesmo como se fossem polvos drogados.

1.1.07

todos contentes e eu também

entre as dores musculares
e o pôr do sol
surge a disponibilidade para
o poema

uma britadeira betona no horizonte
o tórax abre-se cálice flor vértebras

no outro dia avistei Quíron,
o centauro, na forma de um homem
a cavalo num cavalo

é inverno
mas oiço um grilo:
um portanto encalorado
artrópode

contruí uma represa temporária
para estancar o espeto da infelicidade

vou-me embora