2.4.06

adolescência



















tenho trinta e poucos anos. sou ainda um adolescente. sábado à noite depois de jantar com pessoas maravilhosas. e depois o bairro alto, magnífico, com as ruas roupas cheias de sorrisos, as ruas acotoveladas onde tanta nova e bonita. as ruas fremitantes de energia e de adolescências. muito alcóol, evidentemente, e cigarros em fila uns atrás dos outros para serem todos fumados.
e depois já é tarde e as ruas do bairro alto começam a escorrer gente para os lados, os bares estão a afechar. vai-se descendo para o calhariz, para o mítico e imutável "incógnito". cheio a rebentar. é uma casa grávida de multidões. o "d´´artagnan" não deixa entrar mais ninguém. mas lá conseguimos lá entrar. como todos os adolescentes ficámos ávidamente na fila à espera.
aquilo é entrar e tem um ambiente algo próprio. o próprio espaço tem auqele cunhbo de ser "buateque é uma palavra caída em desuso na nossa língua e qe designa locais assim parecidos nos asnos setenta, mas que por ser nos anos setenta, tinham uma aura mística de proibido, de transgressão pop/rock, de libertação, de crime contra os bons costumes. Parece-me que o "incógnito" tem algo disso assim. (ou então sou eu que vejo assim porque não cheguei a ter essa adolescência, tive outras).
e depois descemos para a pista de dança. e encontrei um amigo. e quando vejo a nossa amiga vou para cumprimentá-la e ficámos nos cumprimentando na boca durante quanto tempo?. clámo-nos num beijo fantástico, daqueles beijos que pela sua raridade são tão magníficos e especiais. nem dissemos nada um ao outro. pura e simplesmente nos beijámos com toda a sofreguidão do mundo. lambemos as gengivas, a língua, os lábios, os dentes, um do outro durante muitoooo tempo. enquanto isso távamos no meio da pista. no meio do turbilhão da música, dos fiordes de luz, dos encontrões das pessoas, não descolámos nem por nada, como se fossemos uma ilha num mar agitado. e por estarmos mesmo no meio de tanta gente é que estávamos no fundo tão sozinhos abraçados um ao outro.
só hoje de manhã é que vi os olhos dela. têm uma auréola cinzenta à volta do azul claro. como se fossem um eclipse de qualquer coisa, da íris para aí...
hoje de manhã despedimo-nos. parece-me que felizes. leves. surpreendidos.
e inconsequentes como todos os adolescentes.