18.3.06

lista numero cinco ou seis já não sei.












1. chovem dilúvios.
2. luz eléctrica.
3. jogar xadrez na internéte
4. músculos inchados e doridos.
5. ainda não mudei de roupa hoje.
6. ela olhou-me ontem. com os olhos de desejo que também são meus.
7. os pulmões depois da atmosfera.
8. ao estar tão fisicamente fatigado por isso os músculos enrolam-se nos ossos da indolência.
9. apetece-me tomar dois ou três comprimidos para dormir, e depois ficar narcótico a tentar resistir ao sono. como se existisse uma coisa chamada vontade e não apenas fenómenos bioquímicos e neuronais.
10. sente-se quando um olhar tem desejo dentro. quando uma mulher nos está a desejar.
11. será o mundo ilusão? buda deve ter dito ou pensado algo assim. mas ele não tinha que ter razão. de qualquer maneira os indianos nunca foram grandes pensadores. mas deram sempre bons ilusionistas.
12. eu acho que ela me olhou, ela me olhou com desejo físico no olhar, com uns olhos plenos de desejo e de fertilidade. isso a ser verdade, se era bom que fosse verdade, a ser verdade.
13. seria também cómico ela se calhar achar que eu não a desejo. como seu eu fosse alguém de muito importante quando sou a pessoa mais acessível do mundo com o coração espesso de sangue.
14. esta ultima frase é quase de antónio franco alexandre “recebe-me coração espesso de sangue” que é um verso lindíssimo.
15. (suponho pelos vistos que ela também me deseje, e que não seja a minha imaginação a fazê-la desejar-me)
16. estou a ler “théorie du corps amoreux”, do filósofo Michel Onfray, devia-lhe mandar um emaile um dia destes, e porque não? o subtítulo do livro é muito bonito “por une érotique solaire”.
17. sente-se quando um olhar é quente. quando tem desejo dentro.
18. é de noite. o cansaço espalha-se pelas costas. o cansaço é um eczema.
19. o desejo é perfeito. o desejo quando é proibido tem essa magia da transgressão, de ir contra a instituição do amor acinzentado quando durante muito tempo juntos.
20. (pressuponho portanto que ela também me deseja, e que não seja apenas a minha imaginação buda a fazer-me ela a desejar-me)
21. gosto particularmente de uma palavra inglesa para “estar baralhado”é “puzzled”. eu acho que tou puzzled com esta mulher.
22. fumei e bebi imenso ontem. mas também isso não faz mal.
23. já faço mais flexões e halteres. faço exercício para hipertrofiar os músculos. e esforço-me até encontrar a dor levantar-se dentro de mim. eu preciso definitivamente da dor para viver. da dor física, porque a emocional dispenso.
24. recuso-me categoricamente a sofrer por alguém.
25. será que imagino que ela também me deseja?
26. fumei e bebi imenso ontem. mas também isso não faz mal.
27. a carne do cérebro tenta adormecer. mas eu não vou deixar que isso aconteça.
28. as paredes olham para mim. estou no centro do quarto a escrever sobre o desejo, por uma pessoa concreta. e as paredes olham para mim como se eu fosse um acontecimento ou um fenómeno.
29. fiz agora roque pequeno. os ingleses chama a fazer o roque “to make a castle”. o que indica a filosofia feudal do xadrez. seguindo este raciocínio, de uma forma não muito brilhante, pode-se dizer que eu desejo a rainha que está do outro lado do tabuleiro e que tem provavelmente que ficar com o seu rei.
30. não tenho a certeza, mas acho que ela olhou para mim ontem. com uns olhos plenos de desejo. com olhos de desejo também de desejo os meus.
31. há uma fotografia dela na praia. é uma fotografia muito enigmática. com um rosto muito sonhador a olhar para a areia. se calhar à procura dos castelos perdidos da infância.
32. provavelmente, e como é habitual, não a irei beijar.
33. o desejo é do domínio do proibido e/ou da transgressão.
34. tenho a certeza que ela olhou para mim com “aqueles olhos”.
35. se acontecesse esse primeiro beijo, que me preparo de antemão e descontraidamente para não acontecer, isso seria uma descarga de adrenalina e de prazer profundamente bom e proibido.
36. vou baixar a música para ver se já voltou a chover.
37. um dia destes assim de chuva fui passear na serra de sintra à noite sozinho. pelo meio da floresta e a água por todo o lado humidade. hoje não me apetece.


11.3.06

vem aí a prima vera


e com ela, as flores abertas, e os insectos e vermes como eu a quererem cair lá para dentro à procura daquele melzinho bom que elas têm. para dentro daquelas corolas boas.

4.3.06

lista #4 (aurora)


1. sete da manhã.
2. as persianas estão fechadas. não há cortinas nas paredes o que dá um ar simultaneamente rude e confortável.
3. a atmosfera arrasta-se por cima da casa, com o poder do vento.
4. os pássaros lá fora, desarrumados pelas árvores, cantam o novo dia.
5. a minha gata é toda preta. tem os olhos amarelos. parece um bocado de sombra a olhar para mim.
6. fiz uma tatuagem. é um símbolo. demorou hora e meia a fazer. para o fim já me dóia. mas fiz uma tatuagem.
7. tive com as minhas amigas ontem. que bonitas que elas são. e que alegria por revivê-las.
8. estou à espera que caia mais chuva. era bom porque me iria fazer confortável e protegido.
9. no outro dia o demónio visitou-me. tive a partir coisas e a gritar durante meia hora.
10. hoje é sábado. não vou precisar de sair da cama até segunda feira.
11. tristes trópicos. de claude lévy strauss. uma maravilha de livro. uma surpresa.
12. gostava de adormecer e de ter sonhos que me encantassem.
13. oiço agora o som curvo e longínquo de um avião.
14. precisamos todos de coragem.
15. os aparelhos avariam-se. no fundo nunca está tudo a funcionar ao mesmo tempo.
16. o tempo leva as pessoas para longe. às vezes desaparecem.
17. precisava de me tornar uma pessoa melhor. de sofrer uma remodelação espiritual.
18. não sei se este quarto não precisaria de outras cores. uma cores que dessem mais saúde psíquica.
19. vou tentar adormecer.
20. chove outra vez toneladas de água. parece que o peso da água vai partir as casas todas ao meio.
21. amanhã. talvez amanhã. voltar a sonhar.